6.5.09

Edição T & M, textos de Cristina Ávila



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SUTIS SUTILEZAS
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Bim bom bim bim bom bim bim
É só isso o meu baião
E não tem mais nada não
O meu coração pediu assim, só


No dizer de Caetano Veloso, essa é uma canção-manifesto, nunca considerada por especialistas como emblema da Bossa Nova – “cantei com cuidadinho e economia total”, declarou durante gravação de Totalmente demais Ao vivo, em 1986. Para o cantor, ela “parece demasiado modesta, mas apresenta-se como pretexto privilegiado para João Gilberto exercitar as mais sutis sutilezas de sua invenção. É o máximo. É menos do que o Samba de uma nota só. E acho que esse baião do João é samba”, ri.

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COM A VELHA GUARDA
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Aquela era uma época em que os jovens não se identificavam com a música brasileira. Precisavam de algo novo, que fugisse aos estilos vozeirão e tragédia. Como Vingança, vingança, vingança, de Lupicínio Rodrigues. Não. Eles tendiam para a alegria do sol e mar do Rio de Janeiro.

Mas, mesmo em busca de algo próprio, antes da Bossa Nova chegar, apreciavam muitos profissionais preciosos. Um deles era Ary Barroso.

O mineiro de Ubá teve seu primeiro sucesso no ano zero da chamada época de ouro, em 1930. E foi o compositor mais famoso do Brasil durante pelo menos três décadas. Excelente pianista. Além de boêmio inveterado e intransigente defensor da Música Popular Brasileira.

Autor de um símbolo que durante ininterruptos 25 anos, até a chegada de Garota de Ipanema, era a primeira maravilha brasileira no mundo:

Brasil, meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Ô Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar
Ô Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor


Pois, ele não poderia estar longe da rapaziada que revolucionava a música. Estava lá, sim. Sua Morena boca de ouro, fez parte do LP que também levou o nome de Chega de saudade e foi gravado por João Gilberto em 1959.

Naquele último ano da década, durante a primeira grande reportagem sobre o novo ritmo que tomava conta do país, feita pela revista O Cruzeiro, Ary Barroso estava com os músicos no apartamento do pianista Bené Nunes e de Dulce, e simbolizava o reconhecimento de sua geração à Bossa Nova.

Pela casa do casal, ponto de encontro contumaz, naquele dia passaram Tom Jobim, João Gilberto, Luiz Bonfá, Ronaldo Boscôli, Carlinhos Lyra, Roberto Menescal, Sylvinha Telles, Nara Leão, Oscar Castro Neves, Iko Castro Neves, Luvercy Fiorini, Luizinho Eça, Luís Carlos Vinhas, Sérgio Ricardo, Chico Feitosa, Normando Santos, Alayde Costa, Walter Santos, Pacífico Mascarenhas, Nana Caymmi, Elizabeth Gasper e outros.

A rapaziada sabia valorizar estrelas da velha guarda. Tom citava Custódio Mesquita, Dorival Caymmi, Ary Barroso como heróis. E Ary várias vezes foi à televisão, devolver-lhe: “o maior compositor brasileiro das últimas décadas...”

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